30 de abril de 2011

O Diagnóstico Precoce da Surdez - qual o lugar da linguagem?

Cecília Moura PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Existe um período optimal para a aquisição da linguagem para qualquer indivíduo. Sabe-se que crianças apartadas de uma condição normal de aquisição de linguagem não desenvolverão linguagem de forma normal (RODRIGUES, 1991). Para que isso venha a acontecer é necessária uma relação afetiva num ambiente estimulador. Isso pode vir a não acontecer com bebês surdos que são diagnosticados muito cedo. As famílias podem perder a capacidade de se comunicar com o bebê porque elas acham que o bebê não escuta e que não os vai entender. O bebê precisa ser considerado como alguém que poderá desenvolver linguagem (BOUVET,1990). As funções neurológicas e psíquicas trabalham juntas e há um momento certo para o desenvolvimento da linguagem. Ninguém esperaria que crianças ouvintes sejam expostas tardiamente à linguagem por nenhuma razão. Mas, o diagnóstico precoce da surdez pode fazer com que isso aconteça porque quando a família descobre a surdez de seu filho ela pode parar de falar com ela. Com o diagnóstico precoce que é feito para que a estimulação auditiva comece o mais cedo possível (via aparelhos auditivos ou implantes cocleares) pode haver uma quebra no circuito de comunicação e se poderá privar a criança de
linguagem. Os especialistas argumentam que quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais normal será o desenvolvimento da criança (YOSHINAGA-ITANO, C, 1998). De forma a permitir um desenvolvimento ideal de linguagem oral que não se sabe se irá acontecer ou não os especialistas evitam que uma relação natural mãe/bebê possa vir a acontecer (MADILLO-BERNARD, 2007).
Pretendemos discutir o impacto do diagnóstico precoce no desenvolvimento de bebês surdos no que se refere à forma pela qual a família se dirige ao bebê recém nascido. Pretendemos discutir também o papel que a Libras poderia ter nesse momento do diagnóstico como algo que daria respostas para os pais e propiciaria um desenvolvimento real de linguagem ainda que não seja uma orientação feita aos pais.

25 de abril de 2011

Ferro faz bem para o cérebro das crianças

por Paula Desgualdo
design Darlene Cossentino
foto Alex Silva


Quando o mineral está em baixa no organismo, o cérebro da garotada não se desenvolve como deveria. Daí, aprender o bê-á-bá fica mesmo muito mais difícil.
Reconhecer cores, contar uma história com começo, meio e fim, compreender o que os outros falam, deduzir ordens de grandeza — tudo isso faz parte do desenvolvimento nervoso de uma criança. E o sucesso dessas tarefas, que equivocadamente parecem tão simples aos olhos de um adulto, tem tudo a ver com aquilo que os pequenos comem. “Sem uma alimentação adequada, capaz de garantir o aporte de nutrientes como ferro, o foco e a concentração ficam comprometidos. Daí é mais difícil armazenar novas memórias”, explica a pesquisadora em desenvolvimento humano Elvira Souza Lima, consultora internacional em neurociência e educação de várias instituições de renome.

Um estudo que acaba de ser publicado na Revista Paulista de Pediatria mostra que meninos e meninas com anemia por falta de ferro apresentam problemas de desempenho cognitivo — principalmente na área da linguagem. Ou seja, fica atrás no aprendizado quem está com baixos níveis de hemoglobina — a proteína dos glóbulos vermelhos do sangue que é feita do mineral e que transporta oxigênio. “Analisamos crianças com idade entre 2 e 6 anos”, conta a autora, Juliana Nunes, professora de fonoaudiologia do centro de ensino Fead, em Belo Horizonte. “Nessa fase, a anemia pode provocar graves danos ao cérebro”, acrescenta.

Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada cinco crianças brasileiras de todas as classes sociais sofre da doença. Alguns especialistas acham que esse número seja até três vezes maior. “Em geral, o problema é provocado pela falta de ferro no prato”, afirma a pediatra Fernanda Ceragioli Oliveira, da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Esse mineral não só entra na receita da hemoglobina como participa da produção de enzimas que ajudam a manter as células cerebrais, os neurônios, sempre ligadas. Sem contar que é importantíssimo para as defesas do corpo.

A atenção deve começar no nascimento. Bebês prematuros requerem sempre um cuidado especial. “Isso porque a estocagem de ferro é feita nos três últimos meses de gestação”, justifica Naylor Oliveira, pediatra e nutrólogo da Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas até mesmo crianças aparentemente saudáveis, rechonchudas e coradas podem ser acometidas pelo problema mais tarde. Por isso, não dá para relaxar com a alimentação, confiando apenas nas aparências, nem deixar de seguir as orientações do médico. Para não faltar ferro, é essencial que a dieta infantil inclua carne. Só ela fornece um tipo do mineral, o heme, que é mais bem aproveitado pelo organismo. No caso, as mais ricas são a de boi, de frango e de peixe, nessa ordem. Feijão e outros grãos, além de verduras como couve e rúcula, também carregam o nutriente, mas, para ele ser bem absorvido, necessita do empurrão de fontes de vitamina C, como o suco de laranja. “A verdade é que a criança precisa de um cardápio variado”, lembra Fernanda. Então, combinamos assim: aposente as guloseimas e invista em frutas, verduras, legumes, cereais e, claro, carne. O cérebro do seu filho agradece. E ele, com a desenvoltura de quem se dá bem no território da linguagem, também saberá como agradecer.

A erva-mate contra o mal de Parkinson


Por Anderson Moço
Esse efeito acaba de ser constatado por cientistas da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina. Depois de testar o extrato da planta em ratos induzidos à doença, eles observaram que algumas de suas substâncias mostraram-se capazes de protegê-los. Em outra investigação os animais receberam o fi toterápico com a medicação tradicional e os resultados foram ainda mais signifi cativos. Parte das cobaias chegou a recuperar completamente os movimentos. O estudo ainda é preliminar, mas já provou que a erva-mate pode ser utilizada na prevenção desse mal degenerativo e também como coadjuvante no tratamento, conta a farmacêutica Luciane Costa Campos, chefe da pesquisa.

FICHA DA PLANTA
Nome científico: Ilex paraguariensis St. Hilaire
Nomes populares: erva-mate, mate, erva-chimarrão, chá-do-brasil
Formas de consumo: na região Sul a bebida, bem concentrada, leva o nome de chimarrão; no Sudeste serve-se o chá quente e gelado; no Centro-Oeste seu nome é tereré, versão tropical do chimarrão, com gelo e limão

Revista Saúde.

Gagueira também é coisa de monarca


Por Theo Ruprecht
“Eu tenho a voz.” A frase é proferida pelo Rei George VI (1895-1952), interpretado pelo ator inglês Colin Firth, em um dos pontos altos do filme O Discurso do Rei. Por si só, ela carrega um forte significado, já que vem de um monarca que lideraria o Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial (1940-1944) — afinal, convencer todos os britânicos de sua capacidade em um período tão conturbado não era nem de perto uma tarefa fácil. Mas a sentença proferida ganha ainda mais peso quando se sabe que George VI, também conhecido como príncipe Albert, sofria com uma intensa gagueira.

Esse tipo de disfluência não é privilégio da nobreza. Atualmente, 5% da população mundial a carrega de maneira passageira, geralmente dos primeiros anos de vida até os 12 anos. Já 1% sempre irá conviver com o problema. “Para falar, vários circuitos cerebrais são envolvidos. É preciso escolher as palavras, organizá-las e até saber como entoá-las”, afirma a fonoaudióloga Inês Maia Ribeiro, presidente do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF). “Uma pessoa com gagueira tem dificuldade para unir tudo isso. É um problema de sincronia que ocorre no cérebro”, completa.

Em torno de 55% dos casos, esse distúrbio tem origem nos genes. O restante vem de traumas ou de males como o famoso acidente vascular cerebral. É que se ele atingir uma região específica do encéfalo pode culminar em bloqueios na hora de se comunicar. Com tudo isso, já deu para perceber que a questão não está na boca, no nariz, na língua ou nas cordas vocais, por mais que, em última instância, sejam eles os responsáveis por emitir o som. “Já se chegou a usar métodos extremamente arcaicos para lidar com a gagueira, como colocar próteses na língua”, revela Clara Rocha, fonoaudióloga do Grupo Microsom, em São Paulo. Sabe quem teve que passar por isso? George VI.
Sorte que, depois de submetido a técnicas hoje sabidamente ineficientes, o rei conheceu o terapeuta Lionel Logue, interpretado no longa metragem pelo australiano Geoffrey Rush. Ele seria o que hoje chamamos de fonoaudiólogo. São esses profissionais que possuem o conhecimento necessário para atenuar os efeitos desse curto circuito na massa cinzenta. “Por meio de técnicas específicas, tentamos ativar outras vias no cérebro”, aponta Clara. “Há pesquisas científicas mostrando que, após o tratamento, as áreas cerebrais de um indivíduo com esse problema estão mais parecidas com as de sujeitos fluentes”, corrobora Inês. Durante as sessões, a musculatura responsável pela fala, muitas vezes desequilibrada em decorrência da pane na cabeça, também é trabalhada para relaxar e fazer seu serviço a contento.

Hoje, sabe-se da importância do diagnóstico precoce. “Se a criança ficar mais de seis meses gaguejando, procure um especialista”, recomenda Inês. Isso porque, quanto mais cedo começa o tratamento, maiores são as chances de controlar o transtorno. Ele pode não ter cura, porém, como bem mostrou o Rei George VI, não impede ninguém de compartilhar sua ideias, suas histórias e a sua saúde com muita gente.

Revista Saúde